Ser ou nao ser, eis a questao

Faz quase 4 anos que moramos aqui nos Estados Unidos e nos 2 primeiros ao eu travei uma luta inglória comigo mesma. A luta de aceitar a minha condição de Dona de Casa. Nossa esta palavra me assustava.

Dona de Casa é a minha mãe, que nasceu, cresceu e foi educada para isso. Seu maior sonho era ser esposa e mãe. Nesta ordem.

Eu não. Eu sempre trabalhei, corri atrás, queria conhecer o mundo, coisas novas, sair do quadrado (impulsionada por essa mesma mãe). Pensar diferente. Aprendi tudo que uma dona de casa deve saber, assim não preciso de ninguém e sei exigir tudo direitinho, mas nunca pensei em me transformar em uma.
Mas alguém vai perguntar: tá e daí?

Daí que para um mulher que tem este pensamento é muito difícil aceitar esta condição. Você se vê como uma pessoa que está passando por uma transição, que é passageiro, que logo logo tudo vai acabar e vou voltar a minha vida de antes. Ledo engano, nem sempre a vida responde rápido assim.

Aqui eu não me conformava em lavar, passar e cozinhar, fazer faxina, cuidar do jardim, das compras, contabilidade e no outro dia tudo de novo. Sempre pensei: isto não é para mim, não nasci para isso. Até gosto de fazer as coisas de casa, mas não como obrigação diária, mas sim como passatempo.

Achava que meu cérebro estava virando uma massa sem vida, ou com vida limitada. Não tenho nada contra quem se dedica ao lar, mas esta pessoa tem isto como objetivo, enquanto que eu não.

Lutava interiormente contra esta condição. Me aborrecia, chateava, brigava com todo mundo, vivia com dor de cabeça. Cada atividade que eu fazia era um suplício, tudo estava ruim e ainda podia contecer alguma coisa para piorar, e claro acontecia.
E quando me perguntavam então minha profissão? Resposta: Sou administradora de empresas e temporiariamente não estou trabalhando. Tola! Queria enganar a quem? Oh dilema!

Ainda não estou desenvolvendo nenhuma atividade externa pois um dos meus objetivos é produzir aqui neste país das oportunidades. Voltar a ter renda própria, não depender de ninguém, garantir que posso me virar sozinha. Poder pagar alguém para me ajudar em casa. Isto vai acontecer é só uma questão de paciência. Não adianta me desesperar, mas é fácil falar, o difícil viver isso.

O ponto onde quero chegar é o seguinte: Um dia resolvi assumir minha condição de dona de casa e a partir deste momento, muitos dos meu problemas desapareceram. Não estou mais com vergonha de assumir que sou esta trabalhadora incansável. Procurei tirar disto tudo o que tem de bom. Enquanto não volto a trabalhar, também não tenho chateações com horário e prazos a serem cumpridos. Posso pegar meu filho a qualquer hora e sair com ele para passear. Ou então posso sentar na sala e ficar vendo televisão.

Passei a distribuir melhor meu tempo, ainda mais agora que filhote entrou para a escola regular e precisa de uma atenção especial, mas também não morro se deixar de fazer alguma coisa naquele dia. O importante é eu me sentir bem. Chega de culpa por não ser uma criatura que não traz renda para casa. Meu marido já se preocupa demais com isso. Quando eu puder vou voltar a contribuir e até lá vou continuar sendo dona de casa, mãe e esposa. Isto me libertou! Aleluia!

Finalmente descobri quem sou: uma mulher que se profissionalizou em administração de empresas, com ênfase em marketing de serviços, que hoje administra admiravelmente seu lar a vida do marido e do filho, que como todo ser humano normal tem seus problemas, ou seja, sou minha mãe com up-grade.

E você que não trabalha fora, como se sente?

9 BRASILEIROS:

Mi disse...

desde que nos mudamos pra Munique (abril) nao estou trabalhando. A papelada da mudanca e toda a burocracia caiu em cima de mim, ja que meu marido tinha que trabalhar. Isso alem de ter que ajeitar o apartamento todo quase que sozinha. Com isso nao tive tempo nem animo de procurar um emprego. Agora que tenho mais tempo, estou a procura mas aqui é dificil de achar algo na minha area. Pra falar a verdade, eu estou curtindo a beca esse meu tempo livre. Aprendi a valorizar demais poder acordar e dormir quando quero, poder ler um livro ou sair com amigas. Eu nao tenho pressa nenhuma em comecar a trabalhar de novo hehe Mas o que me irrita mais é o julgamento dos outros..."ah, vc nao ta trabalhando é? e o que vc faz o dia todo?" Sinceramente eu quase mando as pessoas irem passear bem longe quando elas perguntam isso hehe Eu falo "faco tudo o que vc gostaria de fazer mas nao tem tempo". =) E continuo aproveitando minha vida ;) bjs!

Unknown disse...

Pois eu tb dou uma de dona de casa aqui na Espanha. Apesar de estar escrevendo a minha tese, também tenho que cuidar da casa, lavar, fazer almoço e tudo mais. No inicio foi mais dificil e confesso que ainda não me acostumei com tantas tarefas domésticas, antes delegadas às amadas "empregadas" da casa da minha mãe. Enfim, é um aprendizado! A gente valoriza mais esse tipo de trabalho...

Cristiane A. Fetter disse...

Oi Mi, que legal saber disso, mas me diz uma coisa: você não tem filhos não é? rs.
Aproveite então.
bjks

Cristiane A. Fetter disse...

Oi Glenda, sabe, eu sempre valorizei o trabalho doméstico, tanto que pagava e bem para alguém fazê-lo para mim. Nunca deixe que ninguém deixasse uma meia embolada que fosse para a empregada pegar, e essa história de deixar o copo vazio na mesa para ela, nunca.
Mas até a empregada sai da casa dela para cuidar da dos outros, é um trabalho, com remuneração, e a gente não, rs.
Foi difícil, hoje está mais leve.
bjks

Maira disse...

Oi Cristiane, hj estou vendo meus comentarios com cuidado e carinho e ai vi o seu, logo AMEI ter chegado até seu blog. Sobre o tema abordado, já passei mal bocados e nunca aceitei a condicao de só ficar em casa. Minha mae foi dona de casa até qdo eu tinha 8 anos, depois meu pai "se mandou" e ela teve q de um dia pro outro por a cara pra bater sem ter experiência em muita coisa. Decidiu vende o carro q sobrou pra gente e fazer um curso de cabeleireira. Desde entao nunca mais dependeu de ninguém e sempre disse pra mim e pra minha irma a importancia de nao contar com uma situacao atual, ou seja, sempre estar preparada para de repente se ver sozinha e ter que trabalhar pra sobriviver. Ela, pra piorar, nao estava sozinha, tinha 4 filhos e meu pai "nao quis" levar nenhum. Enfim, cresci nesse contexto e por isso uma das características mais fortes que tenho é querer ser independente e nao depender de ninguém. É ruim. É péssimo, mas sou assim. Melhorei muito vivendo a minha situacao atual, mas ainda choro de vez em qdo por me ver de maos atadas. Choro porque nao consigo gastar o dinheiro do meu marido como se fosse meu. Choro porque sinto falta da minha independencia financeira que suei pra conquistar e com a qual vivi 10 anos. Maaaaas tenho amigas que simplesmente descobriram que amam ser donas-de-casa e AMO estar com elas, pois elas me ajudam a ver tudo que tem de bom. Eu, apesar do drama, nao sou mais "dona-de-casa", pois agora faco MBA em período integral (o qual está me desintegrando)e meu marido é que está realmente cuidando da casa, pois quando chego tenho que estudar e no final-de-semana idem. Nossa acho q era melhor eu ter te mandado um email, pois sinto que o comentario virou um post...hahaha.. é que hj tô em ritmo de desabafo, passando por outras dificuldades que mexem lá dentro. (((-: AMEI seu blog! Estarei sempre por aqui! Bjks! Má

Cristiane A. Fetter disse...

Oi Maira, adorei o seu comentário, mostra como nós somos fortes e podemos superar um monte de obstáculos.
Também fui no seu blog e lí o seu último post e gostaria de saber se posso publicá-lo aqui viu?
bjks

Maira Engelmann disse...

Oi Cristiane, pode publicar sim! Aliás, eu sempre deixo claro à todos que me solicitam coisas desse tipo, que a única coisa que gostaria é de ter meu nome citado como autora seja de textos que escrevo ou fotos que publico. Nossos dons e pensamentos sao presentes a serem compartilhados, mas nao custa nada investir em marketing pessoal através deles, né!?(((-: Bjks!

Cristiane A. Fetter disse...

Maira, eu SEMPRE dou o crédito aos donos dos textos, já que não seria justo eu ir até sua casa e pedir uma coisa e não mencionar o fato não é?
bjks

Unknown disse...

Cris, acho que o mais difícil é vencer o nosso próprio preconceito. As pessoas nos vêem como nós mesmos nos vemos. Se temos vergonha da nossa situação qualquer acabamos levando qualquer comentário bobo como uma ofensa. E não falo somente em relação a trabalhar ou não, falo em relação a ser imigrante. Tenho certeza de que boa parte das pessoas que dizem ter sofrido discriminação se ofenderam com bobagem porque não estão de bem com elas mesmas.

Ainda não tinha vindo aqui, quer dizer, tinha vindo rapidinho, sem nem parar pra ler, agora estou lendo tudo de uma vez só! Hahahaha!

Beijo grande!